O relógio marcava pouco mais que 16h na tarde nublada desta quarta-feira, quando Oswaldo Tavares Flores, que completou 90 anos neste 14 de abril, foi convidado pela neta Gabrielle Flores Brandão, 31 anos, a ir até a frente da casa onde moram, no Bairro Nossa Senhora do Rosário. Ao sair pelo portão, se deparou com dezenas de carros enfeitados com balões buzinando pela quadra. Foi impossível segurar a emoção ao rever amigos e familiares, que estão há um ano sem conviver presencialmente por conta da pandemia, comemorando o aniversário em drive-thru. Entre as buzinas, cartazes com mensagens de carinho e o colorido dos balões. De longe. os convidados e o aniversariante trocavam um “estou com muita saudade”, “que bom te ver” e “eu te amo, vôzinho”.
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Vacinado contra a Covid-19, com saúde e muita lucidez, seu Oswaldo já sonhava há anos com a festa dos 90, mas não imaginava que seria impedido de reunir quem mais ama por uma crise sanitária. Poucos dias antes da data chegar, ele até comentou com a neta que queria comprar uns “refris” para colocar gelar, pois alguém poderia aparecer.. Mal sabia ele que a família já estava com a surpresa planejada.
– Essa eu nunca imaginei na vida. Eu achei muito lindo, estou sentindo só satisfação e emoção. A emoção é muito grande, porque em primeiro lugar eu não esperava por isso, mesmo tendo muitos amigos – comenta o aniversariante.
O idoso ainda tinha o desejo de trocar os presentes que ganharia por alimentos para doar às famílias em situação de vulnerabilidade social. Nem mesmo esse detalhe foi deixado de fora pela organização, e todos que passavam pelo drive-thru deixavam itens não perecíveis, que vão ser encaminhados para a Sociedade Espírita Francisco Costa, onde Oswaldo é membro desde 1993, para então destinar a quem precisa.
– Agora, eu estou de coração tranquilo, mas antes estava nervosa, porque queria que tudo desse certo. Ele merece, a gente ama esse “véinho” mais que tudo nesse mundo – conta Gabrielle.
A história da vida de Oswaldo, como a própria família define, daria um livro. Ele conheceu a esposa Cely, já falecida, na adolescência, mas acabaram se separando ainda muito jovens. Ambos seguiram suas vidas e constituíram famílias, só que décadas depois, quando os dois já estavam viúvos, o destino fez com que se reencontrassem e a história de amor foi reconstruída nos 22 anos que ficaram casados. Desde que ela morreu, o idoso mora com a filha e o genro Niva e Arlei Brandão, o neto Guilherme, a neta Gabrielle, o marido dela, Solis Cavalheiro, e os bisnetos Gabriel e Manuella. Antes da pandemia, o que mais gostava de fazer era sair para caminhar pelo Centro e reunir-se com os amigos.
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O desejo é que daqui a 10 anos, no centenário, ele continue esbanjando saúde e possa fazer uma festa grande para abraçar todo mundo.
Foto: Pedro Piegas (Diário) Os netos Solis e Gabrielle (à esq.), o bisneto Gabriel, a irmã Inah e a nora Rita celebraram os 90 anos de Oswaldo (ao centro)